Tenho recebido relatos de mães e cuidadoras preocupadas com meninas que estão menstruando muito cedo, buscando o bloqueio hormonal para evitar esse desenvolvimento. Antes mesmo de trabalhar com Ginecologia Natural, me especializei em Ginecologia da Infância e da Adolescência, e não apenas estudei muito este tema, como acompanhei os atendimentos no Hospital das Clínicas da USP, a maior universidade do país e referência internacional. Estou dizendo isso porque a informação que trago é fundamental para mudar essa conduta, que inclusive é oferecida irresponsavelmente por médicos, ignorando as consequências físicas e psicológicas dessa intervenção. Fisiologicamente falando, a 1ª menstruação só é considerada precoce antes dos 8 anos – ou seja, a partir desta idade, é normal que aconteça, a gente gostando ou não. É notório que meninas estão menstruando mais novas e, apesar de não haver estudos conclusivos, algumas causas são evidentes na observação clínica: alimentação rica em produtos de origem animal – carregada de hormônios e antibióticos – e industrializados, longe de qualquer processo metabólico natural. E destaco, ainda, os estímulos virtuais. Enquanto a minha geração brincava de boneca e pega-pega aos 10 anos, hoje essa faixa etária passa a maior parte do tempo no Youtube e Instagram, é vestida de mini adulta desde bebê, idolatra blogueiras focadas em corpo, roupa e maquiagem. Entendo a apreensão de achar que suas meninas deveriam ter mais tempo de infância, mas lembro que menstruar não significa virar adulta, pois uma menina pode ter seu ciclo mantendo seu universo infantil. A idade menstrual não é uma escolha da nossa maternidade, e aí entra o desafio de aceitar que não temos controle sobre o destino e o corpo dos nossos filhos, e de entender até que ponto a gente tem poder e direito de intervir. É compreensível que a mãe busque um profissional para receber orientação sobre isso. Inaceitável é que esse profissional, que deveria zelar pela saúde dessas meninas e oferecer apoio e formas de lidar de maneira acolhedora, sugira uma intervenção violenta como solução a um corpo que não está em desequilíbrio.
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