Algumas mulheres nascem sem útero. Existem síndromes genéticas que cursam com essa alteração. O principal exemplo é a síndrome de Rokitansky (rara). Algumas mulheres tem seus úteros retirados cirurgicamente por um processo conhecido como Histerectomia, que pode ser total ou parcial (quando é mantido o colo do útero). Numa histerectomia pode-se realizar concomitantemente a retirada dos ovários (ooforectomia) ou não, depende do caso.
Uma histerectomia pode ser indicada devido à câncer, miomas, adenomiose, endometriose. Em mulheres jovens evita-se a retirada dos ovários, pois isso acarretaria uma menopausa precoce, já que sem os ovários não aconteceria mais a produção de estrogênio e progesterona. Já uma mulher que tem seu útero retirado mas os ovários preservados, não irá mais menstruar, porém não estará na menopausa, uma vez que continua produzindo hormônios. (Menopausa é quando os ovários param de produzir os hormônios, a parada da menstruação é consequência. Quando são retirados os ovários temos a chamada menopausa cirúrgica).
Bem, sabemos que a produção de estrogênio e progesterona é importante para a saúde da mulher, portanto a retirada dos ovários só deve ser feita em último caso.
Mas, pra que serve um útero?
Para gerar filhos. Sem dúvidas. E o que mais?
Percebemos que muitos médicos ginecologistas/cirurgiões tem extrema facilidade em indicar a retirada do útero de uma mulher que relata não desejar mais ter filhos, quando essa mulher esta apresentando alguma doença nesse órgão.
Então, fora casos de câncer, se a mulher tem miomas que causam grande sangramento ou uma endometriose que causa dor ao menstruar e não planeja mais engravidar, sugerem a ela a histerectomia, por ela não precisar daquele útero que de nada serve e esta ali enchendo o saco. Isso sem citar os casos em que a mulher ainda pensa em gravidez, mas como os tratamentos convencionais não estão conseguindo resolver as questões a galera apela pro “arranca logo essa porcaria”.
Bem, enxergar o útero como somente uma fábrica de bebês remete a ideia não tão longínqua das mulheres e todo seu aparelho reprodutor sexual criados unicamente para esta finalidade. Também devido a esta visão, mulheres pós menopausa que chegaram ao fim de sua vida reprodutiva perdem a função nas sociedades patriarcais.
Mutilar um ventre não é como cortar o cabelo. Histerectomia não é como retirar uma verruga. Útero não é um forno industrial. Histerectomia é uma cirurgia grande, que envolve riscos, que sangra abessa.
O útero é o centro energético da mulher.
Grande equilíbrio do segundo chakra. Centro de prazer e de poder. Segundo sabedorias ancestrais, medicinas milenares como a chinesa e a ayurvédica, é onde ficam armazenadas todas as memórias e emoções da mulher.
Sim, existem muitos casos em que essa cirurgia é inevitável. Mas, questiono em muitas situações se realmente ocorreu tentativa efetiva da equipe médica em evitá-la. Na imensa maioria dos casos os caros colegas usam a única terapia que existe no planeta deles: a hormonal. Não melhorou com hormônios, não tem jeito, bora sacar.
E execram o útero de uma mulher, privando-a para sempre da sacralidade de menstruar como quem a presenteia com o alívio de um fardo, quando na verdade está retirando uma das partes mais belas de seu feminino.
Com esse texto desejo convidar as mulheres que estão diante dessa possibilidade a repensarem, buscarem outras opiniões e outras possibilidades. Não joguem fora seus lindos úteros tão facilmente, mesmo que nesse momento eles estejam te causando sofrimento. Devemos cuidar de alguém doente, e não terminar de matá-lo.
Mas, quero falar também muito especialmente para as mulheres que nasceram sem ou que já passaram pela retirada cirúrgica de seu útero, seja pelo que for:
Ninguém se torna menos mulher por isso!
Eu falo muito sobre a importância de menstruar aqui, pois no mundo tomado pelo transe das pílulas anticoncepcionais é urgente relembrar isso. Mas sim, ser mulher é sim mais que menstruar e ter útero. Ser mulher vai muito, muito além, se inicia desde que nascemos e vai até o dia em que morremos e boa parte dessa trajetória passamos sem menstruar.
A ginecologia natural acredita que o centro energético se mantém na mesma região onde o útero se localizava e tudo relacionado a ele não se modifica. A beleza, a força do feminino, as histórias de dor e de amor. O ventre de mulher, ligado às deusas, à mãe terra e à lua. Isso não há como ser retirado!.
Uma mulher sem útero, assim como as menopausadas, continua sendo cíclica.
Não é o útero que é cíclico e sim a mulher, em sua essência profunda.
A mulher pode acompanhar seu ciclo juntamente com o ciclo da lua e inclusive preencher uma mandala lunar.
Às saúdo, saúdo suas trajetórias e afirmo que a ginecologia natural e o sagrado feminino continuam tendo muito a ensinar e aprender com todas as mulheres.
Gratidão!
Bel Saide
Ilustração pela artista Christina Fiuza. Muito obrigada por compartilhar essa linda arte!