Seria o Ginecologista o Especialista no Corpo Feminino?

 

Quem ou o que dá a ele este mérito?

Um título acadêmico conquistado após cumprir uma etapa determinada de estudos e requisitos, reconhecido por outros profissionais que cumpriram esse trajeto anteriormente a ele.

Estudei árdua e diariamente por 10 anos até receber o meu. E não desmereço o valor dele. Me formei em medicina, me especializei em ginecologia e obstetrícia, a ciência que estuda a saúde da mulher, do sistema reprodutor feminino, da gestação e do parto. Aprendi muito sobre o corpo humano, seu funcionamento, sua anatomia, fisiologia, reações químicas, patologias, farmacologia, cirurgias.

Tive ótimos mestres, pude observar seus atendimentos e conduções de casos de diversas origens e complexidades. Ao final do curso eu sabia em teoria e prática fazer uma boa anamnese (entrevista com o paciente), colher sua história, examinar, solicitar os exames adequados, avaliar, fazer um raciocínio clínico, diagnosticar, prescrever tratamentos, avaliar resultados. Acompanhar um pré-natal, detectar fatores de risco, acompanhar um trabalho de parto, indicar cesariana e executá-la, acompanhar o pós-parto e o puerpério. Fazer consultas ginecológicas, colher exame preventivo, tratar infecções, sangramentos anormais e toda uma gama de desordens deste setor do corpo humano tanto ambulatorialmente quanto cirurgicamente.

Sim, eu sabia coisa à bessa e havia sido aprovada em todas as avaliações feitas para confirmar isso. Ganhei meu merecido diploma e com ele o aval legal para atuar profissionalmente como uma expert no assunto. Minha função na sociedade: atender mulheres, orientá-las e intervir em sua saúde no que diz respeito ao seu corpo de mulher.

E eu era também uma mulher. Uma mulher jovem que já havia gerado e parido por via vaginal um filho. Uma mulher que tomava pílulas anticoncepcionais e não apresentava nenhum distúrbio ginecológico.

Falando em pílulas anticoncepcionais…

Relembrando esse período constato que se tinha uma coisa que eu saí da residência médica sabendo fazer muitíssimo bem era prescrever e manejar o uso destas. Qual a pílula mais indicada para adolescentes, para mulheres amamentando, para hipertensas, para portadoras de miomas, de cistos ovarianos. Qual a melhor pílula para ser usada de forma contínua por mulheres que não desejam (ou que haviam sido convencidas de que não podem) menstruar, qual pílula oferecer em substituição caso esse útero, teimoso, ainda insista em sangrar. Se a mulher se queixasse de efeitos colaterais devido ao uso da pílula, aprendi a receitar por qual outra pílula ela deve trocar ou dizer que aquele sintoma não deve ser por causa delas.

Qual tratamento hormonal para controlar sangramentos uterinos indesejados, nunca como permiti-lo sangrar. Ou muito menos desejá-lo. Isso eu não sabia. Quando e como iniciar e ter sucesso na manutenção de seu uso, nunca como parar, a não ser que o objetivo seja uma gravidez.

É impossível atravessar o universo da ginecologia sem nadar no vasto mar dos contraceptivos hormonais e seus derivados. Não existe atuação na área ou possibilidade de exercício da especialidade sem lançar mão constantemente desses fármacos de controle do ciclo menstrual. Pelo menos foi o que 100% dos livros e professores me ensinaram.

E assim moldada segui meu caminho como médica que prescreve pílulas e mulher que faz uso de pílulas.

Após quase 15 anos de uso eu não posso dizer q me sentia mal, fisicamente falando. Eu me achava “normal”. Aquilo não parecia alterar em nada negativamente minha vida e me permitia transar sem camisinha e sem engravidar além de escolher quando e se eu queria menstruar. Maravilha.

Porque parei de tomar anticoncepcional?

Sinceramente eu não sei exatamente porque um belo dia eu resolvi parar. Só posso enxergar uma explicação: intuição.

Nessa época eu trabalhava exclusivamente como obstetra em maternidades públicas do Sistema Único de Saúde, era (e sou) completamente adepta da humanização do parto e amava o que fazia. Mas, carregava em mim uma sensação de ainda não estar no meu lugar, no meu propósito no mundo. Comecei a estar em contato com profissionais atuantes em terapias integrativas e poucos meses depois conheci a Ginecologia Natural, que revolucionou minha vida pessoal e profissional.

A chegada da Ginecologia Natural

Apaixonada pelo novo olhar que me foi mostrado a respeito de tudo que eu havia aprendido até então, mergulhei fundo no estudo e na vivência prática, que não se resume de forma alguma a tratar doenças com plantinhas. Isso é o de menos.

Um dos maiores, e acho que o maior, foco da Ginecologia Natural é o ciclo menstrual da mulher. O ciclo natural, sem uso de hormônios artificiais. Até porque com o uso dos hormônios não temos ciclo menstrual. Uma vez que o ciclo se caracteriza pelo sobe e desce natural hormonal e a tomada diária das pílulas inibe essas variações visando suspender a ovulação e consequentemente a gravidez.

A mulher que toma pílula anticoncepcional (ou injeção, ou implante, ou anel, ou adesivo, ou DIU hormonal) não tem mais o ciclo menstrual. E este, dentre tantos outros, é seu pior malefício.

Vivenciando seu Ciclo Menstrual

A Ginecologia Natural deseja levar a mulher ao autoconhecimento profundo, a autonomia e a conexão com seu corpo em sua essência e dessa forma a liberdade, a saúde real e ao empoderamento de si e de seu universo feminino e tudo que nele está incluso, e isso só é possível vivenciando o ciclo menstrual.

Com mais de 35 anos de vida e mais de 10 de formada então, me tornei a mulher que não toma e a médica que não prescreve medicamentos que suprimem esse elemento tão fundamental da saúde e da vida feminina. E só então comecei a aprender realmente sobre ele.

Percebi que nós médicos ginecologistas fomos todos fortemente contaminados por influências diversas e obscuras da indústria farmacêutica, dos alimentos e do pensamento científico ocidental colonizado e limitado que foca na doença e não no doente, nos sintomas e não na causa, tão pouco na cura. E que está aí a explicação para uma ginecologia que vive de prescrever indiscriminadamente e exponencialmente hormônios às mulheres não apenas como a única forma segura de prevenir uma gravidez como para absolutamente todo e qualquer desequilíbrio que envolva a menstruação.

Escrevi um livro com o título “Ginecologia Sem Hormônios” em que contesto esse paradigma e mostro que é possível – e muito melhor – uma ginecologia livre de hormônios artificiais. Meu consultório não demorou a encher de mulheres que não desejavam tomá-las e até então não sabiam que podiam. Queriam menstruar naturalmente. Queriam sentir seus ciclos. Muitas delas nunca o haviam conhecido.

E eu comecei a aprender muito com elas e suas trajetórias. Assim como com a minha trajetória com os meus ciclos que eu estava então conhecendo também. Sem dúvidas tem sido isso o que mais tem me ensinado sobre esse assunto que é em si uma vastidão: a observação das mulheres que acompanho e de mim mesma.

Li também vários livros, participei de cursos, rodas de mulheres, encontros sobre saberes femininos ancestrais, me sentei ao redor de sábias mulheres abuelas para ouvi-las falar, conversei com amigas que me apresentaram a mandala lunar, me contaram sobre plantar a lua (gesto de devolver o sangue menstrual à terra), sobre os arquétipos, sobre a lua e sua influência, sobre nossa natureza cíclica. E disso não tenho, não terei e nem quero e nem preciso de nenhum certificado.

Mas e o conhecimento científico?

Cada vez mais me convenço de que o aval científico não é capaz de atingir entendimento  do que é a menstruação e por isso constato que a imensa maioria dos médicos ginecologistas nada ou muito pouco compreendem sobre ela, e por isso só conhecem uma única forma de lidar: aniquilando-a.

Notei nesse contato com tantas mulheres que um número gigantesco delas afirma simplesmente odiar menstruar e comecei a me perguntar e perguntar a elas o porque.

Dores, desconfortos diversos no período menstrual e pré-menstrual, sangramentos excessivos. As causas: doenças em seus úteros, ovários e vaginas, traumas emocionais, abusos de toda ordem, não aceitação ou relação ruim com o feminino ou até mesmo simplesmente um senso comum de que ela é ruim porque é. Chata, desagradável, desnecessária, inconveniente.

Interessante que se destrinchamos todas esses pontos levantados chegamos a uma causa primordial que leva tantas mulheres a detestarem ou apenas ignorarem seus ciclos e seu sangue menstrual: o sistema patriarcal vigente que nos massacra há milênios. E isso inclui é claro a medicina, dominada por homens.

O ciclo menstrual é uma imensa força e potência feminina e a mulher que conhece e se conecta profundamente com seu ciclo esta sim é uma especialista. Especialista em si mesma. A única possível. E isso ninguém a ensina. Alguns instrumentos podem auxiliá-la nesse religare, mas o caminho é o do SENTIR. Esse verbo tão deixado de lado na era moderna, especialmente enquanto vemos os seres se resumirem à telas de smartphones, os corpos parecem desaparecer.

Mas eles gritam de tantas formas. Sugiro às mulheres que os ouçam ao invés de silenciá-los com medicamentos e atitudes de afastamento de si. Pois seu corpo é seu parceiro, é seu meio de manifestação e interação nesse plano.

As recomendações médicas…

Para absolutamente todas as mulheres que atendo eu digo para que menstruem. E SINTAM sua menstruação. Seu ciclo fala com vc. Para vc, sobre vc. E ele te ouve também. Da mesma forma que diversas feridas energéticas e emocionais que carregamos desde nossas ancestrais adoecem nossos úteros, já presenciei MUITAS mulheres se curarem e se reequilibrarem apenas se reconectando e fazendo as pazes com sua menstruação.

A menstruação é uma função fisiológica da mulher e não deve ser suprimida. Assim como todas as outras, se está adoecida deve ser tratada, devemos de uma forma abrangente fortalecer o corpo e ele naturalmente caminhará para o perfeito equilíbrio e sinergia. Essas mulheres, todas, incluindo eu, notam que ao voltarem a menstruar uma transformação profunda se dá. Pq encontramos aí a nossa essência. A essência selvagem do ser mulher. O amar menstruar é amar ser mulher. E passa por isso antes de tudo uma aceitação de si. Me perdoe Simone de Beauvoir, entendo o contexto da construção social a que se refere sua frase, mas a gente nasce mulher sim.

Nascemos com útero, ovários, vagina e isso determina nosso caminhar no mundo desde o primeiro instante. É o que nos une e nos torna iguais, independente de como o expressamos. E é original de fábrica: todas sangramos pela vagina mensalmente. Passar todo o nosso período reprodutivo que vai aproximadamente dos 12 aos 50 anos lutando contra e renegando isso é passar a maior parte de nossas vidas lutando contra nós mesmas e nossa natureza. Se ao contrário buscamos nos harmonizar, compreender e desfrutar disso encontramos um portal para um universo inteiro dentro de nós que sequer sonhávamos existir e q necessariamente transforma também todo o nosso universo exterior.

Esse vem se tornando o meu principal e favorito assunto de fala e escrita por enxergar como algo realmente revolucionário e com potencial de cura muito além da médica. Cura pessoal, da sociedade, da humanidade, do planeta. Física, mental, emocional, espiritual.

A imagem que ilustra este post foi feita por @studiododge

 

As mulheres que tanto precisam e pedem por uma medicina mais humana, por médicos que as ouçam verdadeiramente, que respeitem suas peculiaridades, que as empoderem ao invés de lhes levar à dependências e inseguranças diversas.
Sei que ao meu lado estarão muitas mulheres nessa busca VERDADEIRA.

Bel Saide

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